domingo, 4 de junho de 2017

O meu copo

Um dia a vida obriga nos a parar. Normalmente é quando menos dá jeito. Nunca é oportuno porque temos de trabalhar para pagar as contas do mês, a renda da casa, as listas de compras no supermercado, os convites de amigos, etc. Mas é importante, que no corropio do nosso quotidiano haja tempo para parar e conversar connosco. Perceber se somos realmente felizes, ou se vamos sorrindo por educação.
Fui obrigada a parar, como já tinha dito, mas vou tentar explicar porquê.
A cerca de 2 anos mudei me para Lisboa com o intuito de tirar o meu curso enquanto trabalhava para juntar dinheiro para o pagar.
Fui. Mas os planos que tinha na bagagem de quando embarquei nesta aventura, rapidamente foram esquecidos com as responsabilidades de uma vida rotineira, do que falei no início...
Muitas coisas boas aconteceram, mas as más parece que decidiram ir surgindo todas umas a trás das outras e ganhando um peso enorme em mim...
Havia uma incompatibilidade enorme entre a minha mãe e a minha irmã, O meu pai foi parar ao hospital, de seguida a minha avó. O meu pai acaba por ir sobrevivendo numa cama de hospital até hoje. A minha avó acabou por falecer. E faleceu precisamente no dia em que fazia 3 anos que uma grande irmã minha, também me tinha deixado.
O tempo passava e eu não conseguia por dinheiro de parte para o meu curso.
Nunca me debrucei muito sobre todas estas emoções, porque as desvalorizava. Pensava também que toda a gente passa pelo mesmo e eu não sou diferente, por isso tinha o dever de conseguir lidar com isto tudo, mas no final do ano de 2016 o meu corpo começou a dar sinais.
Em Outubro tive uma convulsão, em Dezembro só me apetecia dormir e começava a fazer me impressão estar num sitio com muita gente. Os meses de Janeiro a Abril estão de forma muito ténue na minha memória.. Mas Maio está bem presente. Além de ter cometido um dos erros mais estúpidos da minha vida, que foi o de ter a cobardia e o egoísmo de ter deixado o meu comandante para trás, julgando que não era justo alguém ser contaminado com este caos, também Foi neste mês que a vida me obrigou a Parar.
Dei por mim a não conseguir acordar com vontade de viver, a não conseguir ir da cama à casa de banho, ou a qualquer outro lado, sem me agarrar às paredes e sem que as minhas pernas tremessem que nem varas verdes como se de um grito de ajuda se tratasse. E no dia 26 do mesmo mês encontrava me nas Urgências do Hospital de Portimão sem conseguir lidar com... Na realidade, Sem conseguir lidar com nada.
A médica disse me que era síndrome vertiginoso, ansiedade, ataques de pânico e indícios de depressão.
"Ansiedade? Ataques de pânico? Depressão?!?! Não, devem é estar malucos... " Era o eco de questões que tinha na minha cabeça. As pessoas que me são mais queridas falavam e eu mal as conseguia ouvir porque estas eram as questões que ocupavam a minha mente e não davam sequer espaço para as soluções que me eram apresentadas.
Foi-me dada uma baixa médica e recomendado que ficasse em repouso absoluto durante 2 semanas.
Chorei muito por ter de o fazer, às vezes ainda choro... Porque deixei a minha vida TODA em suspenso.
Mas fui aceitando que tinha de parar. E fui tentando conversar com a minha mente, com o meu consciente, com o meu inconsciente, com o meu ego, com o meu orgulho e com o meu coração.
As coisas finalmente estão a ficar claras para mim.
Todos nós temos a nossa tolerância. Gosto de o ver como um copo. Esse copo vai enchendo... se não o esvaziar mos de vez em quando, existe um dia que, basta uma gota de água para ele transbordar.
O meu grande problema, foi não ir esvaziando esse copo.
E com os erros aprendemos sempre uma lição. A minha é: se o meu copo começar a encher (porque é natural que aconteça) não posso levar muito tempo a esvazia lo.


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